Décio Bianco, Abib e Buzoni - ex-jogadores do Juventus








Lá dentro, um cheiro de poesia, de grama seca sob o sol forte, de saudade e de absoluta paixão pelo futebol. (Luis Fernando Bindi)

Ir à Rua Javari ao menos uma vez é algo obrigatório àqueles mais fanáticos por futebol, afinal é um estádio de muita tradição. Foi inaugurado em 26 de abril de 1925 em um terreno doado pelo conde Rodolfo Crespi, que hoje dá nome ao estádio.

Casa do “Moleque Travesso”, apelido dado ao Juventus pelo hábito de surpreender os times grandes, o estádio foi palco do gol mais bonito do Rei Pelé segundo ele próprio, em 2 de agosto de 1959.

O gol não foi filmado, mas reproduzido em uma espécie de simulação de videogame no filme Pelé Eterno, de Anibal Massaini. Há poucos registros fotográficos do jogo e nem o próprio Pelé possui fotografia do gol.

Havia a informação de que Pelé teria conseguido a foto na Mooca em uma troca por uma bola autografada com o Giba, dono de famoso bar próximo ao estádio, informação confirmada pelo próprio que expõe a bola junto a um conjunto de muitas camisas e fotos com jogadores de futebol por todas as paredes do estabelecimento. “Dá uma olhada naquela ali no canto... Dorval, Chinesinho, Buzoni, Pelé e Pepe”, diz, apontando para uma foto do ataque da Seleção Paulista de 1959. “E este jovem ao seu lado é o mesmo da foto, o Buzoni.”

Buzoni chegou ao Juventus em 1958 e permaneceu seis anos no clube. Atacante de qualidade, foi tetracampeão brasileiro pela Seleção Paulista ao lado de Pelé, e dizem só não ter ido à Copa de 1962 por uma grave contusão. Esteve em campo no dia do famoso gol. “Vi o filme e o gol foi parecido, ele pegou a bola no meio, deu três chapéus sem deixar a bola cair e fez de cabeça. Só não fomos abraçá-lo porque ficaria chato”, lembra.

Poucos minutos depois, chegam dois amigos de Buzoni ao bar: Décio Bianco, meio-campista do clube nos anos 60 – “Vim de São Sebastião especialmente para ver o Juventus e rever amigos” – e Abib, que também atuou como meia de 1963 a 1967 após passagem pelo Corinthians – “Me sinto em casa na Mooca, todo mundo me trata bem”.

Indagado sobre a presença constante de ex-jogadores em seu bar, Giba assegura: “Você não viu nada, venha aqui depois do jogo e falamos melhor” (apesar do boato que corre no bairro de que ele fecha o bar em caso de derrota). “Isso é lenda. Fecho na hora de fechar.”

O jogo
Dificilmente se encontrará um estádio que abrigue jogos profissionais com tamanha visibilidade e, principalmente, proximidade do campo e dos jogadores. É muito fácil, inclusive, “passar instruções” aos jogadores e técnicos, hábito de muitos torcedores ali presentes.

Atrás de um dos gols fica o Setor 2, torcida organizada que seria como qualquer outra não fosse o lema “Ódio eterno ao futebol moderno”, na defesa da tradição contra a atual mercantilização e o profissionalismo exacerbado no esporte. Um dos alvos dos protestos é um placar eletrônico que substituiu o antigo, manual.

Há também, entre os muitos que têm o Juventus como primeiro time, torcedores de outros clubes paulistas que gostam e consideram o Juventus como segundo time. Não é raro, aliás, perceber torcedores com camisas de outros clubes, o que na Javari não chega a ser um problema. “Somos o time da Mooca e o segundo time da cidade toda”, diz empolgado Antonio Ruiz Gonsalez, atual presidente do clube. “Estamos trabalhando para reestruturar o time e voltar à divisão principal”, completa. Atualmente, o Juventus disputa a Série A3, espécie de terceira divisão do futebol paulista.

O clima singular de um jogo na Javari motivou os cineastas Rogério Zagallo, Andrea Kurachi e Helena Tahira a produzir o documentário em curta metragem Juventus, rumo a Tóquio. “A ideia surgiu meio sem querer, íamos fazer um documentário sobre a Mooca e inscrevê-lo em um concurso da prefeitura. Diante do clima do jogo, não houve outro jeito”, diz Zagallo.

O jogo em questão era Juventus x Linense, pela final da Copa Federação Paulista de Futebol. O campeão teria direito a disputar a Copa do Brasil, torneio tido como “o caminho mais curto à Libertadores de América” e cujo título leva à disputa do Campeonato Mundial durante anos realizada em Tóquio.



Intervalo
No intervalo, as pessoas se encontram e dão ao observador a impressão de que frequentam aquele espaço há muito tempo. Um desses frequentadores é Candinho, técnico com passagens por muitos clubes no Brasil e no exterior, além da Seleção Brasileira, e que deu ao Juventus seu principal título, o de Campeão Brasileiro da Série B em 1983. “Hoje estou revendo a Rua Javari, está igualzinha, ainda bem. Isso é um patrimônio histórico da cidade.” Nascido na Mooca, diz voltar ao bairro sempre que pode: “O Juventus, as pizzarias e o povo da Mooca são coisas imperdíveis de São Paulo.”

Outra tradição do intervalo é o consumo de cannoli, um doce também conhecido como língua de sogra, vendido pelo seu Antonio há décadas na entrada das arquibancadas. É impressionante a velocidade com que centenas de cannoli são devorados.

Nesse dia, o Juventus não vivia uma tarde (não há jogos à noite uma vez que o estádio não dispõe de sistema de iluminação) muito feliz e foi derrotado pelo Red Bull, equipe do interior do Estado.

A proximidade do fim da partida coincide com a do final da tarde. Há uma sensação de nostalgia, um desejo de que o programa comece de novo, talvez porque se saiba que do lado de fora há a vida da cidade, mercantilizada e profissionalizada ao extremo, com toda a correria de nossos tempos.

Pensando bem, ir à Rua Javari é mais do que algo obrigatório àqueles mais fanáticos por futebol. É um grande programa onde o futebol é só mais um charmoso detalhe.

Em tempo: procurado depois da partida, Giba não pode falar, pois o bar estava fechado. Incrível coincidência.










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