A Região Turística Uva e Vinhos, situada na Serra Gaúcha, resulta de diversas iniciativas e lideranças em uma linha de tempo, que se dá desde o início do século XX, quando a região era um destino reconhecido de veraneio e turismo de saúde.

Por veraneio, pela leitura da época, entendia-se a prática social de passar um período, superior a 15 dias, em contato com a natureza e atividades peculiares às propriedades rurais, aos pequenos hotéis e pousadas familiares. Tinha o caráter de acolher as famílias em seu período de férias. Já o turismo de saúde, era entendido como fator benéfico devido, sobretudo, ao ambiente em região de serra, de clima ameno, portanto favorável a quem tivesse problemas ou necessidades de repouso ou tratamentos. A infra - estrutura encontrava – se nas sedes das então pequenas cidades, ou em áreas rurais, que mais tarde foram designados de distritos que vieram a originar as novas cidades.



O elemento favorável ao desenvolvimento do turismo atingido neste período foi a presença do trem e das inúmeras pequenas estações, que aproximavam o grande centro a um bucólico local. Alguns exemplos evidenciam esta realidade. Cotiporã, um vilarejo pertencente a Alfredo Chaves (hoje Veranópolis) e que possuía, em 1930, 11 hotéis. Veranópolis passa a ser designada como cidade de Veraneio, cujo nome incorpora esta vocação natural da época. O evento se repete em Bento Gonçalves, com hotéis na então Santa Tereza, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira, ainda como comunidades interioranas. Caxias do Sul tem no Hotel Bella Vista, em Ana Rech, o seu expoente lendário deste período, juntamente com outros hotéis da área urbana. Pequenos hotéis também sobreviviam em virtude de uma demanda de caixeiros viajantes, de apoio aos hospitais, onde acompanhantes e recém saídos dos hospitais, encontravam a estrutura que os acolhia, até as condições ideais de retorno aos seus lares.

Na década de cinqüenta para sessenta há uma ruptura com este modelo e com a atividade de turismo e lazer. Alguns fatores foram decisivos como: o crescimento da atividade industrial, a decadência gradual da ferrovia, a falta de acessos rodoviários, a mudança conceitual de veraneio de serra para sol e mar - acesso então facilitado pela construção da BR 101 da a BR 116, que tangenciam a região, ocasionando o isolamento da maioria dos municípios de interesse turístico. Pode-se afirmar que então 90% dos empreendimentos do período deixaram de existir.


Algumas lideranças, porém, se mantiveram especialmente no setor dos vinhos, que predominavam no sistema cooperativado, destas pode-se citar a Cooperativa Vinícola Mônaco, a Vinícola Dreher, a Maison Forestier e a Vinícola Aurora, que sob agenda, realizavam a visita e degustação de seus produtos.

A Região, com relativa independência, assume a responsabilidade sobre o seu desenvolvimento, reordenamento geográfico, além dos limites políticos estabelecidos. Encontra na organização solidária o estabelecimento de redes locais e ingressa no capitalismo moderno, através do modo de produção e de organização.

Em 1980, a iniciativa privada, sob a liderança do Hotel Dall’Onder, retoma a atividade, baseando-se em pesquisa de opinião de clientes e buscando a resposta nos antepassados que afirmavam que, "naquela época [período de 1920-1956] os turistas gostavam de tudo o que era nosso"(MICHELON, 1997). Sensível a este relato, se percebe que este trás no âmago a questão Cultural, nasce aí uma proposta de Turismo baseado em cultura.

De 1980 a 1990 retomam-se os corais, grupos de danças folclóricas e chama-se isso de espetáculo, quando apresentado ao turista. Incentiva-se a visita a propriedades rurais, uma das primeiras da Família de Jurandir Pozzamai, no Distrito de São Valentim, seguida da propriedade da família Tumelero, no Vale dos Vinhedos, hoje a Queijaria Quinta do Joaquim. Esta prática ocorria simultaneamente em Flores da Cunha, na comunidade de Otávio Rocha. Neste período, durante 4 anos, a Ferrovia do Vinho faz o percurso Bento- Jaboticaba, que distribui os turistas em uma dimensão ampliada. O cliente vai até Nova Prata, visita Veranópolis e Vila Flores.

Com o passar do tempo, a iniciativa privada passa a interferir no cenário turístico local, desenvolvendo ações com o objetivo de atrair os visitantes para a região. Além disso, surge a Atuaserra - Associação de Turismo da Serra Nordeste - no ano de 1985.

A Atuaserra foi fundada a partir da iniciativa de onze Secretarias de Turismo dos municípios de Caxias do Sul (primeira sede da Associação), Antônio Prado, Flores da Cunha, Garibaldi, Farroupilha, Bento Gonçalves, Veranópolis, Serafina Corrêa, Nova Prata, Guaporé e São Marcos, que tinham a intenção de unificar suas ações voltadas à promoção dos atrativos da região dos vinhedos, de forma a fortalecer e resgatar o turismo, presente até a década de 50 e substituído pela atividade industrial cujo apogeu deu-se nos anos de 1970.

Com o passar do tempo, algumas ações foram sendo concretizadas na região, vindo a fortalecer seu potencial turístico:

- A partir de 1990 constitui-se a Maria Fumaça como a primeira e mais concreta ação microrregional, com o comprometimento em protocolo, unindo poderes públicos, privado e lideranças empresariais em 3 municípios: Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. Atribui-se a responsabilidade deste atrativo para a iniciativa privada;

- Ainda no início da década de 90 cria-se o Projeto Cultural Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves, pela liderança de Tarcísio Michelon;

- O declínio do sistema de cooperativas no setor dos vinhos resulta no desenvolvimento do enoturismo, tendo como expoente o Vale dos Vinhedos. Em decorrência do sucesso do mesmo, surgem outros seis Roteiros de Enoturismo na região;

- Em 1996 a iniciativa privada aproxima-se da Atuaserra, motivados pelo PNMT (Programa Nacional de Municipalização do Turismo), ato que já se encaminha, na ocasião, para a futura regionalização. Também em 1996, nascem as primeiras Agências de Turismo Receptivo e de Aventura na Região, uma em Caxias do Sul e uma em Bento Gonçalves.

Outras iniciativas contribuíram com este desenvolvimento, principalmente as parcerias entre poder público e privado. A Atuaserra tem como finalidade, inclusive, a articulação entre estes segmentos, sendo considerada atualmente uma governança regional, tendo como objetivo a coordenação do desenvolvimento turístico na região.

Nestes vinte e quatro anos de história, muito se desenvolveu regionalmente, o que envolveu o trabalho intenso com governos, lideranças locais e empreendedores. Em um trabalho que tem como preocupação a sustentabilidade das comunidades, a Atuaserra atende hoje trinta municípios da Serra Gaúcha e vários projetos envolveram esta localidade: Turismo Rural, Turismo de Aventura, articulações para tombamentos históricos, divulgação das belezas e atrativos da região, inventariação turística, qualificação do artesanato local, convênios com Instituições de Ensino, além de todo um trabalho macro para planejamento de ações regionais.

Assim, pode-se fazer uma relação deste desenvolvimento com os dizeres de Krippendorf, “que as trocas sejam eqüitativas e igualitárias”, e bem como “(...)o encorajamento de uma estrutura econômica diversifica  evitando a monocultura, tendo como premissa o conceito de desenvolvimento harmônico do Turismo”.



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