A cargo dos escritórios GCP Arquitetos e Grupo Stadia, a concepção da nova Arena Cuiabá para o Mundial de 2014 partiu dos três pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. A receita pode parecer batida, ainda mais que o evento brasileiro foi batizado de “Copa Verde”, mas os titulares do estúdio levaram a fundo os pressupostos.
Uma estrutura flexível permitirá a desmontagem de parte das arquibancadas e coberturas após o torneio, reduzindo custos de manutenção. No entorno haverá uma praça com áreas de lazer para incentivar a urbanização do bairro Cidade Alta. Uma atenção à ventilação e aos requisitos de construção sustentável orientou o projeto.
Segundo o diretor do estúdio, arquiteto Sérgio Coelho, o grande desafio do projeto foi aliar sustentabilidade, funcionalidade e custo. Opção, no entanto, que gerou críticas tanto de autoridades estatais, que gostariam de uma estrutura permanente e de maior porte, quanto de arquitetos, que esperavam uma arquitetura simbólica que remetesse à cultura regional.
“Arquitetura é arquitetura. Existem projetos com intenção iconográfica, inclusive com certas forçações de barra, mas há também a arquitetura pensada com uma função, que é a nossa maneira de ver”, afirmou Coelho. "Os estádios monumentais com que sonham os políticos simplesmente não fecham a conta depois de construídos", completou o arquiteto.
"Os estádios monumentais com que sonham os políticos simplesmente não fecham a conta depois de construídos"
Arena flexível
A construção da Arena Cuiabá demandará a demolição do estádio Governador José Fragelli, conhecido como Verdão, inaugurado em 1975. Parte dos resíduos será utilizada na pavimentação da praça, cuja área, somada à do estádio, chega a 300 mil m2.
Para reduzir os custos de manutenção no pós-Copa, a arena foi concebida em quatro módulos independentes. A cobertura e a arquibancada superior dos setores norte e sul terão uma estrutura metálica desmontável. O projeto conceitual desse sistema foi desenvolvido pelo escritório londrino Sinclair Knight Merz, com detalhamento da empresa Ponto de Apoio. Desse modo, cerca de 30% dos 43 mil assentos da arena poderão ser removidos depois do Mundial.
“Os quatro módulos do estádio são absolutamente idênticos. A única diferença é que a estrutura da parte flexível é metálica aparafusada e o resto é em concreto pré-moldado”, afirma Coelho. Os anéis inferiores serão permanentes para caracterizar a arena.
Os 80 camarotes serão instalados entre as arquibancadas superiores e inferiores. A ala oeste concentrará vestiários, tribuna de honra e setor de imprensa para 800 profissionais.
Ventilação, consumo eficiente e reciclagem
Segundo a coordenadora do projeto, Alessandra Araújo, o partido arquitetônico priorizou a ventilação do estádio, já que o verão cuiabano atinge temperaturas em torno dos 40°C. “O estádio é completamente vazado nas laterais e na cobertura. Também tentamos criar uma convexão térmica para que a diferença de temperatura propicie a circulação do ar. O canto com paisagismo favorece isso.”
A arena terá dispositivos economizadores que reduzirão em até 20% o consumo energético do edifício. Sistemas para a captação de água pluvial e a implantação de uma estação de tratamento de efluentes também serão instalados.
Integração com o entorno
Segundo Alessandra, o grande trunfo do projeto é a integração da arena com o entorno, o que pode incentivar o desenvolvimento urbano do bairro Cidade Alta. “A intenção do parque não é apenas a de deixar um legado, mas a de criar um foco de atratividade numa região que ainda precisa acontecer urbanisticamente”, diz.
No parque haverá restaurante, espelho d’água, choperias e playgrounds. Durante a Copa, a área servirá para as instalações de hospitalidade da Fifa e de TV Compound (estacionamento de caminhões de transmissão de TV), além de abrigar 2.580 vagas de estacionamento. Fora do estádio haverá mais 4.000 vagas.
A Arena Cuiabá e a praça estão orçadas em R$ 440 milhões, valor que será bancado pelo governo com recursos de um fundo estadual ou do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O edital foi lançado em 22 de outubro. O anúncio da proposta vencedora está marcado para 20 de janeiro, na sede da Sinfra (Secretaria de Infraestrutura de Mato Grosso).
Fotos: (crédito: GCP Arquitetos)
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